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Não há como negar que a Capcom elevou (e muito!) o nível de expectativas dos fãs com seus remakes da série Residente Evil, principalmente após a "reimaginação" do segundo episódio da série, lançada em 2019. A forma como a desenvolvedora japonesa trouxe uma nova visão a jornada de Leon e Claire não só atualizou o jogo que conhecemos há 22 anos, como também trouxe elementos novos que, esperemos, sejam usados em títulos futuros da franquia.
Mas a produtora japonesa não estava satisfeita e, apenas um ano depois, anunciou o lançamento do remake de Resident Evil 3. Mas é aí que a situação fica um pouco mais complexa, pois é importante que as pessoas que encarem a aventura de Jill o façam sob a perspectiva certa.
Este novo Resident Evil 3 chega com uma proposta totalmente diferente do primeiro remake, que chegou às lojas em 2019. A aventura de Leon e Clare era um jogo se terror e investia em ambientes claustrofóbicos, cenas gore, histórias conspiratórias. O game levou os zumbis ao centro dos holofotes, transformando-os em criaturas terríveis e ameaçadoras.
A aventura de 2020, por outro lado, é essencialmente um título de ação e busca uma estrutura mais dinâmica, colocando o jogador sempre em movimento - enquanto participa de cenas grandiosas e enfrenta hordas de zumbis e outros monstros. Temos aqui criaturas que podemos enfrentar de frente graças à quantidade generosa de armas que são colocadas sem cerimônias em nossas mãos, para que possamos nos divertir sem preocupações de que a munição acabe.
É uma mudança de abordagem muito bem-vinda, pois se propõe a apresentar algo diferente dos jogos passados, em vez de repetir uma experiência que, apesar de excelente, já havíamos experimentado antes.
Esta estrutura de gameplay também deixa esse remake mais próximo do seu material original, já que o primeiro Residente Evil 3 também era um título muito mais focado na ação e cuja proposta é nos fazer enfrentar os horrores se Raccon City, em vez de querer que sobrevivamos a eles.
Porém, a nova jornada de Jill atualiza todos os elementos que conhecemos no final da década de 1990, com um excelente tratamento gráfico e um sistema de tiro e exploração próprios dos títulos com perspectiva em terceira pessoa que temos atualmente. A diferença é que a estrutura voltada para a ação trouxe uma dinâmica diferente do que vimos no remake de Resident Evil 2, a começar por um novo comando de esquiva que é bem útil para enfrentar os inimigos.
Sem os enigmas complexos que marcavam presença no jogo original, esta aventura sempre nos força a seguir adiante para uma nova área, levando-nos a uma grande quantidade de ambientes menores em vez de investir num único grande lugar para explorarmos, como ocorria em Residente Evil 2.
É uma fórmula que já tinha sido seguida no título original e aqui também funciona bem, injetando adrenalina através da ação em vez de suspense - porém, dando alguns momentos de respiro aqui e ali, antes de voltar ao seu estilo mais dinâmico.
Esse ritmo torna este Resident Evil 3 um título muito divertido de ser jogado pela forma como investe numa ação na medida certa, apresentando uma protagonista poderosa, mas que passa por maus bocados ao longo de sua jornada, fugindo do estilo canastrão que marcou Resident Evil 6. Assim, nossa fuga por Racoon City é marcada por confrontos que são tensos, mas também nos fazem sentir poderosos, enquanto disparamos sem medo contra as criaturas que aparecem em nossa frente.
Mas além do seu gameplay, a narrativa do game também contribui para o ótimo ritmo da aventura ao nos apresentar personagens muito mais interessantes do que os que conhecemos há 21 anos.
Jill recebeu uma bela repaginada, a começar pelo seu visual, com roupas mais condizentes com sua realidade, afinal, ver uma heroína enfrentando o apocalipse zumbi de top é minissaia já era ridículo na época, imagine agora. Mas além do vestuário, a protagonista ganhou uma personalidade mais definida e que lhe dá muito mais carisma, assim como Carlos, que deixa de ser o side kick genérico para se tornar um companheiro mais interessante e que realmente tem uma química com a heroína, o que torna a jornada do dois numa experiência mais prazerosa de ser acompanhada.
Tudo bem que o game infelizmente acaba exagerando em Nicolay, que deixa de ser a figura aparentemente dúbia que era no original, para ser um personagem que tem "Vilão malvado e sem escrúpulos" escrito na testa. Porém, este é apenas um ponto fora da curva diante da melhoria que vemos em todos os outros personagens do jogo.
Mas é aqui que entramos num ponto delicado, pois estas melhorias já eram esperadas depois do que vimos no remake de Resident Evil 2 - e o que torna um título inferior à reimaginação da jornada de Leon e Clare é que a aventura de Jill é um título sem ambição, que não busca levar novos elementos àquela aventura além das atualizações já esperadas. Um título bem feito, sim, mas que não consegue surpreender nem mesmo no que deveria ser seu maior trunfo.
Nemesis era vilão implacável há 21 anos. Uma figura mais presente e que aparecia em momentos variados, muitas vezes em áreas comuns, o que intensificará a impressão de que ele estava perseguindo a heroína e nos deixava tensos por nunca realmente sabermos quando ele iria parecer.
É uma abordagem que tornou o vilão mais "clássico", pois o transformou numa evolução do Mister X de Resident Evil 2, ao levar ao centro do gameplay uma experiência que antes inserido numa das histórias do jogo passado.
Porém, o Mister X que conhecemos em 2019 foi algo tão impressionante que simplesmente diminui o novo Nemesis, que é uma versão mais detalhada do inimigo de duas décadas atrás, mas com timing muito pior.
O novo jogo prefere guardar seu vilão para momentos específicos e teoricamente mais impactantes, mas que muitas vezes não funcionam, principalmente quando restringem nossa ação como jogador. Não importa quão dramática uma cena tente ser, ela nunca terá graça se tudo que fazemos é colocar a heroína para andar para frente.
O Mister X de Residente Evil 2 Remake é uma figura ameaçadora porque nunca sabíamos quando ele iria aparecer e, quando isso acontecia, tínhamos que lidar com ele do nosso jeito, fugindo ou o enfrentando pelos corredores da Delegacia. Nemesis aparece quando é conveniente para o momento do jogo, o que causa seu impacto, mas não é suficiente para nos provocar medo ou receio do vilão, que ao invés de ser uma figura que nos deixa com o coração na mão, torna-se uma ferramenta que está ali apenas para dificultar nosso caminho.
Apesar desses percalços, o remake de Resident Evil 3 é um título competente e divertido, embora sinta que ele vá ter o mesmo destino do original: um bom jogo que será esquecido frente a títulos muito melhores da franquia.
Talvez o fato do projeto ter sido aparentemente desenvolvido em menos tempo seja o fator responsável pela falta de "vontade de inovar" e, se este é o caso, apesar de ser um bom jogo, esta reimaginação da aventura de 1999 dá vontade de esperar mais alguns anos pelo remake de Resident Evil 4.
Isso dará mais tempo para que tenhamos uma aventura tão inovadora e divertida quanto foi o original.
Resident Evil 3 foi lançado no primeiro semestre de 2020 para PC, PlayStation 4 e Xbox One.
(Rafael Barbosa)