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Mafia pode nunca ter sido foi um grande clássico do mundo dos games, porém, quando foi lançado em 2002, o título da Illusion Softworks se provou um jogo competente, atraindo uma grande quantidade de fãs, dando início a uma franquia que vem crescendo tanto em qualidade quanto em vendas.
Após 18 anos, vemos o remake do título chegando pelas mãos da Hangar 13, que comanda a série desde o seu terceiro episódio. Trata-se de um título que atualiza os gráficos e o gameplay que conhecemos há quase duas décadas e que demonstra as maiores qualidades - mas também os maiores defeitos - da sua desenvolvedora.
O game retrata a história clássica da série: acompanhamos a trajetória do mafioso Tommy Angelo, desde sua entrada na organização criminosa até a derrocada de sua carreira. Porém, mesmo que traga uma estrutura narrativa igual à do título original, incluindo até mesmo algumas cenas e diálogos idênticos ao jogo de 2002, a história traz diversos novos elementos que a tornam mais densa e interessante de ser acompanhada.
No título original, era o protagonista que entrava num bonito restaurante na introdução original, para então, calmamente oferecer seus serviços como informante ao detetive Norman. Mas neste remake, é o policial que entra num estabelecimento que já viu dias melhores, para encontrar o anti-herói e dar início a uma conversa que traz um tom mais urgente e tenso do que aquele que vimos no passado.
A Hagar 13 volta a mostrar que sabe contar uma boa história, uma qualidade que já tinha demonstrado em Mafia III, e que aqui é utilizada para dar mais substância à narrativa que conhecemos no início dos anos 2000 e tornar seus personagens mais interessantes. É um elemento que se destaca principalmente no protagonista do jogo.
O jeito sério e frio que Tommy tinha no jogo original foi substituído por um ar nervoso e apreensivo, que traz mais credibilidade à gravidade da sua situação. O anti-herói agora é uma pessoa mais humana, sendo justamente isso que torna seu arco mais interessante, pois nos permite ver de forma mais clara como ele é impactado pela vida de crime na qual ingressou e que transformou um homem cujo senso moral não lhe permitia matar alguém a sangue frio numa pessoa violenta e o hitman de seu Don.
Esse aprofundamento também é levado para diversos outros personagens da série, que igualmente deixam de lado o ar bidimensional do jogo de 2002 e aqui se tornam mais convincentes graças à adição de pequenos trechos de diálogos entre uma cena e outra.
O roteiro é muito bem amparado pela interpretação de excelentes atores, o que corrige um dos maiores defeitos do Mafia original: o péssimo trabalho de dublagem. Agora temos uma equipe que emprega vozes cheias de personalidade aos personagens.
A cidade de Lost Heaven também recebeu uma bela repaginada. A cidade continua sendo baseada em Chicago, mas não só está mais bonita como também se mostra mais interessante e cheia de detalhes para serem apreciados. Navegar pelo mapa do game é como viajar no tempo e retrata com muita competência o estilo de uma cidade dos anos 30, com suas estruturas imponentes e concretadas, seus cartazes de propaganda e a forma como as linhas de bonde preenchem a cidade.
Confesso que na maioria das missões eu simplesmente dirigia tranquilamente de um ponto a outro da cidade, só apreciando a paisagem, observando as pessoas seguindo suas vidas pelas ruas e reparando nos detalhes daquela ambientação, como um anúncio específico, as fachadas das lojas ou um protesto contra a crise econômica que ocorria em uma esquina.
É uma imersão muito efetiva principalmente por conta da trilha sonora do game, que traz músicas de época animadas. Mesmo que o jogo tenha apenas duas estações de rádio, o título faz um ótimo trabalho ao alternar entre músicas e transmissões de notícias que descrevem acontecimentos do jogo.
Assim, enquanto seguimos nossa vida pelas ruas daquela metrópole, ouvimos notícias sobre eventos que ocorrem no game ou que ajudam a aprofundar elementos daquele universo, como uma análise sobre a crise econômica, o crime organizado ou mesmo os momentos finais de um campeonato de beisebol.
A condução dos veículos também sofreu melhorias consideráveis. O título original tinha problemas em conseguir transmitir a sensação de velocidade dos carros, o que é um grande inconveniente quando grande parte da experiência do jogo se dá justamente por dirigirmos pelo cenário e participarmos de perseguições.
A sensação de pisar fundo no acelerador agora é satisfatória e você sente a diferença de velocidade e de resposta entre os diversos tipos de carros disponíveis no título, cuja navegação também ficou mais interessante por passar o peso que os veículos da época tinham, graças a direção mais dura e o pequeno delay presente nos comandos.
Uma pena que as motos não tragam o mesmo esmero que encontramos nos carros, uma vez que apresentam mecânicas que parecem ter sido colocadas às pressas no título. Basta subir numa motocicleta para perceber que a desenvolvedora não teve nem mesmo o cuidado de animar os braços e o corpo do personagem enquanto ele dirige, o que confere uma movimentação travada e artificial para esses momentos.
É só um detalhe que em geral não atrapalha a ótima experiência de imersão que este remake de Mafia oferece, o que não é uma surpresa. Mafia III já tinha mostrado o talento da Hagar 13 em produzir bons gráficos, uma estrutura divertida para seus veículos e um roteiro e ambientação cativantes.
O problema é que esta releitura do jogo de 2002 traz alguns dos problemas que vimos em 2016, na aventura de Lincoln Clay. É o caso dos combates.
Todas as dinâmicas envolvendo os tiroteios do jogo são ruins. Temos uma quantidade limitada de armas, nossa movimentação é “travada” e lenta demais e os inimigos não só têm uma Inteligência Artificial precária como parecem não sentir os tiros que levam, devido à baixa quantidade de animações que dispõem.
Assim, participar dos tiroteios do jogo sempre é uma tarefa automática e pouco dinâmica: procure um ponto de cobertura, troque alguns tiros até que o oponente caia, focar-se no outro adversário e assim por diante. Isso sem contar o péssimo sistema de combate corpo a corpo e de furtividade presente no game, que trazem uma mecânica simplória em demsaia.
Mafia consegue transmitir através da sua história o perigo, a tensão e a violência que encontramos nos melhores filmes de gângsters do cinema, porém ele não consegue levar isso para o seu gameplay, através dos seus combates, repetindo um problema que também está presente em outros jogos da franquia.
Mafia: Definitive Edition se mostra um jogo competente e uma adição interessante a uma serie que tem evoluído com os anos em diversos aspectos, mas que continua a pecar nos mesmos quesitos. Algo que, espero, possa ser corrigido num futuro Mafia IV.
Mafia: Definitive Edition foi lançado em setembro de 2020 para PlayStation 4 e Xbox One.
(Rafael Barbosa)