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A volta de Battletoads foi uma agradável
surpresa para mim. O primeiro jogo da franquia, lançado em 1991 é
um dos grandes clássicos dos games, e se tornou celebre por ser tão
cheio de personalidade, quanto por sua mecânica arrojada, que
levava o jogador por uma série de fases com desafios
variados.
Mas, apesar de a série tentar seguir em frente com algumas
continuações, ela nunca conseguiu impactar os jogadores como no
primeiro título, fazendo com que a franquia rapidamente caísse no
ostracismo. E lá permaneceu por 26 anos.
A nova aventura de Pimple, Rash e Zitz chega como uma
reformulação completa da série e acerta justamente por propor um
novo formato para a saga, não renegando os elementos que tornavam
as aventuras da década de 1990 marcantes, mas inserindo-as numa
nova roupagem mais moderna e engraçada.
Sob a tutela da Dlala estúdios e a supervisão da Rare, o novo
Battletoads deixa de lado a premissa de “heróis f...” e o caráter
um tanto marrento que marcou os títulos anteriores - e que
simplesmente não se encaixam mais nos padrões atuais. A época em
que poderíamos levar a sério uma aventura em que sapos alienígenas
lutam contra uma rainha das trevas ficou no passado e o novo título
abraça a maluquice deste argumento para a transformar no centro de
sua experiência.
Com um estilo de arte mais quadrado e colorido, que lembra muito a “vibe” da série Teen Titans Go, a aventura entra num ritmo leve e despretensioso enquanto acompanhamos a jornada do trio de protagonistas para tentarem se tornar famosos novamente. Com animações bem produzidas (apesar de simples), o jogo tira sarro da própria irrelevância da série como ponto de partida para fazer gozação com tudo e todos - sejam eles protagonistas, vilões ou coadjuvantes. Ninguém escapa de protagonizar uma piada ou ser alvo dela.
Porém, o roteiro do game é inteligente o suficiente
para usar seu humor para dar profundidade aos seus personagens e
dar mais substancia ao seu universo, mostrando diversos aspectos
dos seus heróis e sobre o mundo em que vivem, elemento que abordei
de forma mais aprofundada no vídeo que fiz sobre o título. O resultado é um
game que esbanja carisma e que consegue ser um tanto boboca, mas
ainda sim genuinamente divertido e interessante, pois encontra
entre suas brincadeiras infantis o espaço para da profundidade a
seus personagens e também para tirar sarro de alguns assuntos mais
polêmicos, o que sempre dá uma apimentada nas coisas.
Mas claro que as piadas não poderiam ficar exclusivamente no
roteiro de Battletoads e elas também são levadas ao seu
gameplay, num beat'n'up que leva o nonsense às alturas enquanto
ainda consegue ser competente em sua execução.
Temos uma série de movimentos ao nosso dispor e além
de golpes e especiais que se propõe a ser poderosos e também
divertidos de serem vistos, podemos dar um Dash para desviar de
ataques, puxar os inimigos para perto, prende-los no chão por
alguns instantes e desarmar suas defesas com ataques
especificos.
Elementos que trazem uma série de variedades as batalhas, que se
transformam em ringues malucos e cheios de possibilidades que
sempre seguem um bom ritmo de ação, com combates rápidos que nos
colocam sempre em movimento pelos estágios, trazendo um bom
dinamismo a aventura.
Uma pena que o jogo perca a oportunidade de fazer
esta experiência ser ainda mais interessante ao não investir num
nível dificuldade balanceado. O game tem excesso de check points e,
embora os inimigos possam causar uma boa quantidade de dano, quando
um personagem é derrotado ele pode voltar a ação em poucos
segundos, fazendo com que seja muito difícil de morrer no
game.
Faltou a esta aventura um nível de desafio que o obrigasse a
jogador utilizar seus recursos de forma mais competente, o que
tornaria o fato de vencer horas de inimigos em uma experiência não
só divertida, mais também recompensadora. Na verdade, a falta de
balanceamento é o calcanhar de Aquiles deste novo
Battletoads, já que ele está presente em diversos outros
aspectos da sua campanha.
O game faz jus ao legado da franquia ao trazer diversos estágios e minigames que mudam a dinâmica da aventura e tornam o gameplay variado e muitas vezes divertido. O problema é que eles são pessimamente divididos entre os estágios, colocando o jogador pelo primeiro terço da campanha no modo beat'n'up para depois simplesmente esquecem este estilo de jogo.
Deste modo, passamos uma boa parte do game numa
sucessão de minigames e novos estilos, que muitas vezes se arrastam
mais do que deveriam (como o desafio usado para concertar a nave
dos heróis) ou continuam a pecar ainda mais pela falta de desafio,
como os estágios em que jogamos apenas com Pimple.
Battletoads se preocupa demais em várias seu gameplay e no
processo esquece de dar destaque ao que faz de bom. Um problema que
gera uma aventura de muitos altos e baixos, mas que ainda consegue
divertir quem estiver segurando o controle, graças a bons momentos
em sua jogabilidade e com sua história divertida de ser
acompanhada.
É um título que marca um bom retorno para uma
franquia que passou tempo demais sumida do mundo dos
games.
Battletoads foi lançado em 20 de agosto último para PC e
Xbox One, através da editora Rare.
(Rafael Barbosa)