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Pouca coisa no mundo dos videogames pode ser tão desencorajadora quanto ver um grande jogo trocar de desenvolvedora. Surge uma sensação de desapego, falta carinho, e não é por menos, geralmente a qualidade destes despenca após a transição. Não é o que houve com Far Cry.
Originalmente gigante exclusivo do PC, até porque os consoles da época eram incapaz de rodá-lo em todo seu primor, o FPS paradisíaco foi quem colocou o nome da alemã CryTek no mapa. O primeiro Far Cry era gigantesco e único. Misturando furtividade e mundo aberto de forma pouco explorada até 2004 no universo dos jogos de tiro em primeira pessoa, a história de sobrevivência do misterioso Jack Carver pelas ilhas da Micronésia se tornou sinônimo de poderio das placas de vídeo fumegantes. Foram mais de 800 mil unidades vendidas apenas nos primeiros meses.
Parecia então que o caminho da CryTek para o sucesso estava traçado. Eles haviam conquistado o público com um nome e agora seria apenas saber manter e inovar. Mas não foi o que aconteceu. Em uma virada do destino, nossos queridos alemães preferiram focar-se totalmente no desenvolvimento do que seria na época a sequência espiritual de Far Cry, Crysis. Assim, sempre muito espertos, os franceses da Ubisoft, que já haviam cuidado de alguns ports do game para Xbox, compraram os direitos da franquia e se prepararam para mergulhar o conceito do game em uma nova era.
Deu certo. Seis anos depois, cá estamos para falar de um dos jogos mais esperados do início da geração: Far Cry 4.
Far Cry começa com o retorno de Ajay Ghale a sua terra natal de Kyrat, país fictício na encosta dos Himalaias. Não sabemos exatamente como era a situação da região quando Ghale a deixou, mas ao seu retorno este encontra um país enfraquecido e quebrado pelo regime déspota do imprevisível Pagan Min.
O único desejo de Ajay era despejar as cinzas de sua mãe no lugar onde ela nasceu, mas como acontece muitas vezes na vida, as mudanças chegam de sopetão e da forma mais brusca possível.
O ônibus de viagem do herói é surpreendido por uma milícia comandada pelo próprio vilão que, em menos de dois minutos, massacra tudo e todos que se rastejam para sobreviver. Pagan, interpretado ao ponto da demência por Troy Baker, ao chegar no final da carnificina parece desapontado. Desequilibrado ao extremo, o vilão se desculpa pelas mortes esfaqueando dezenas de vezes o capitão que comandou o assalto.
A coisa poderia ter terminado aí para Ajay, mas não... Sempre tem como piorar. "Eu reconheceria esses olhos em qualquer lugar", diz Min ao se aproximar do herói, apesar de nem mesmo saber seu nome. A primeira mostra do game em ação fecha com uma inusitada selfie, antes de Ghale ser encapuzado e ser levado para sabe-se-lá-onde.
Depois do sucesso estrondoso de Far Cry 3, é de se esperar até pelos mais leigos que a desenvolvedora siga a mesma estrada durante a quarta versão, mas a grande verdade é que a Ubisoft Montreal vem mostrando sempre o mínimo de sua nova fórmula. Dirigido por Alex Hutchinson do polêmico Assassin's Creed 3, o novo Far Cry promete um mundo ainda maior que seu antecessor e decididamente mais vertical, tendo em vista a região do planeta onde a nova história ocorre. Ao contrário de Far Cry 3, entretanto, dependendo do que estiver acontecendo no game, os jogadores terão muito menos tempo para explorar as belezas de Kyrat.
A constatação veio do atual diretor de narrativa do projeto, Mark Thompson que, no terceiro game da série, comandou o level design da aventura. Thompson busca justamente corrigir elementos de Far Cry 3 que para ele foram erros, como o fato do jogador poder explorar a ilha deste livremente mesmo durante sequências do enredo emergenciais ao protagonista.
A busca pela imersão entre jogador, enredo e cenário retorna ainda mais determinada no novo episódio e, para isso, foram tomadas o que Thompson descreveu como "um mundo que se abre conforme a visão do herói". Reforçando esta noção, Ajay Ghale será um protagonista mais calado que Jason de Far Cry 3, dando espaço para que os jogadores preencham seus pensamentos e exclamações.
Assim como Far Cry 3, este quarto episódio pode cruzar a fronteira do misticismo. Ou melhor, Far Cry 4 pode cruzar de verdade a barreira do sobrenatural, ao invés do último game que misturou superstição, intoxicação e subconsciente para dar vida a sua louca narrativa. Pagan, ou algum outro vilão ainda não revelado, pode acreditar que o segredo para a vida eterna está em algum entre as alturas dos Himalaias e estará disposto a travar uma verdadeira guerra para fazer valer sua ambição.
Tem como ficar melhor que isto? Bom, na realidade até tem, mas não dá para dizer os desenvolvedores não estão no caminho certo.