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Sete anos atrás, quando joguei Red Dead Redemption pela primeira vez, fiquei fascinado com o tamanho do mapa e com a quantidade de side-quests e easter eggs espalhadas por todo canto. Depois vieram GTA V, Far Cry 3 e qualquer tipo de gigantismo fica difícil superar. Até que Fallout 4 chegou na parada. Depois de jogar cerca de 50 horas, é impossível não ficar impressionado com o tamanho desse projeto.
Assim que você coloca o disco pela primeira vez no PS4, há um update de 500 MB que precisa ser baixado. Não pule esse update, pois muitos glitches foram corrigidos já nessa atualização. Além do mais, enquanto o console baixa o arquivão no background, cinematics com estética dos anos 1950 mostram “comerciais” de TV da Vault-Tec alertando para uma possível Guerra Nuclear.
Quando o jogo começa, você vive aquele climão de anos 1950 na estética, nas roupas, nos móveis e nos eletrodomésticos da casa, ainda que o enredo seja ambientado em um futuro distante. A sequência de cinematics e QTEs (Quick Time Events) ultrapassa um pouco a linha do tolerável, mas até que se justifica para nos situar nem na história. A partir do Level 2, no entanto, é que a ação propriamente dita começa - é lá que você vai encontrar o dog, um dos elementos mais legais deste game.
No início, é muito fácil ficar perdido no cenário. As cidades estão praticamente abandonadas, fruto do cenário pós-apocalíptico oferecido pelo jogo, mas você pode vagar por horas fuçando em ruínas, entrando em casas e tentando achar itens que possam ser úteis para suas missões. Obviamente, volta e meia aparece um gafanhoto mutante gigante, uma topeira monstruosa que sai debaixo da terra ou algum gatuno que ataca você sem a menor razão. E é nessas horas que nosso belíssimo dog tanto pode ajudar como atrapalhar, se você não souber dar os comandos certos para ele.
A exploração dos lugares é fantástica, mas também é meio frustrante. A gente está acostumado àquele padrão Assassin’s Creed/Tomb Raider de subir em tudo, mas aqui a coisa não funciona bem assim. Uma caixa de lixo ao lado de uma parede não é exatamente uma plataforma para se pular durante uma fuga. Isso é bem frustrante. E em determinadas situações em que forcei a barra pulando para um lugar onde não deveria estar, acabei ficando preso em um espaço em que teoricamente o personagem poderia se movimentar sem problemas. Em todas as vezes que isso ocorreu, só foi possível continuar a jogar reiniciando o game. Tive esse problema no PS4 e amigos jogando Fallout 4 no Xbox One também passaram pelo mesmo incoveniente, o que nos leva a crer que não é um bug localizado, apesar de pequeno.
Também confesso que incomoda um pouco a mecânica dos jogos FPS (tiro em primeira pessoa) para pegar itens. Você pega algo e ele fica flutuando à sua frente, indicando que o objeto está em sua posse. Optei por mudar a visão para TPS (terceira pessoa), que tem uma movimentação mais realista e o objeto não “flutua”. Quando jogamos Fallout 4 em modo TPS e coisa começou a fluir de verdade.
Para qualquer lugar que você vire tem uma história, uma missão paralela, alguma coisa para fazer o looting. Não é nenhuma novidade que a Bethesda gosta de games gigantescos (vide Skyrim), mas é de para aplaudir de pé a baixa quantidade de bugs em projetos tão ambiciosamente grandes como este Fallout 4. Ainda assim, volta e meia nos deparamos com uma IA (Inteligência Artificial) com glitches: inimigos que passam ao seu lado e não vêem você, o dog que desaparece de cena sem razão alguma ou buracos no chão que você passa por cima como se estivesse flutuando.
Como o gameplay é o grande atrativo do game, algumas partes dos gráficos acabam sendo meio sacrificadas. Os personagens humanos, por exemplo, parecem zumbis quando tentam expressar algum sentimentos. Aparentemente, a Bethesda caprichou tanto nos cenários que os personagens em si acabam parecendo “sprites” do PlayStation de duas gerações atrás.
Mantendo a tradição da série Fallout, aqui neste quarto episódio você outra vez está meio perdidão no início, pois seu personagem parece um peixe fora d’água neste mundo pós-apocalíptico. Quem está familiarizado com a série o com o próprio gênero dos RPGs em geral, facilmente vai pegar os macetes do sistema de “especiais” batizado de S.P.E.C.I.A.L. (Strength, Perception, Endurance, Charisma, Intelligence, Agility e Luck). O negócio é meio complexo, mas extremamente útil quando você aprende a usá-lo de maneira adequada. Funciona assim: cada um desses “especiais” tem 10 habilidades diferentes que você pode bloquear à medida que avança na história. Cada vez que você sobe um nível, ganha um ponto para desbloquear alguma habilidade, que você pode monitorar através de um pôster que vem junto com a versão em caixinha do game.
Outra feature interessante para ser usada durante a ação é a VATS (Vault-Tec Assisted Targeting System). Em Fallout 3 e em Fallout: New Vegas, você conseguia congelar o tempo direto no controle do console, permitindo um ataque direto nos pontos fracos dos inimigos mais poderosos. Agora, o sistema VATS deixa o tempo em câmera-lenta, que não é tão certeiro quanto o anterior, mas também funciona de modo efetivo.
E mesmo para isso é preciso ter um bom arsenal. Fallout 4 não entrega tudo de bandeja: é preciso fazer upgrades para que as armas sejam realmente efecientes. Não raro a gente fica entre 20 e 25 minutos tentando achar a combinação ideal de partes soltas de uma arma antes de colocá-la no inventário e partir para os embates. Se você tiver paciência, vai ser recompensado na hora da briga; Se não tiver, vai ficar sonhando com alguma microtransação in-game que te desse armas potentes já prontinhas para serem usadas (xiii, melhor não dar ideia…).
Isso vale também para o sistema de looting: recolher clipes, penicos ou rádios velhos pode parecer ser sentido em um primeiro momento, mas eles serão essenciais para construção de novos itens. O problema é que a gente sempre se empolga e pega coisas demais: perdi a conta das vezes que tive que esvaziar o inventário para conseguir fazer alguma fast-travel.
No geral, Fallout 4 é um jogo que justifica todo hype criado desde antes de seu lançamento. Ele é imenso, absurdamente cheio de conteúdo e o fator imersão ganha aqui contornos realmente impressionantes. Não é algo que vicia você logo de cara, como um Assassin’s Creed, mas sim que conquista por etapas e, quando você se dá conta, já se passaram mais de 50 horas de ação.
(Fernando Souza Filho)