A esta altura, a franquia Call of Duty já virou aquele blockbuster de verão, para quem não criamos expectativas, mas no fundo sempre torcemos para que algo de novo seja apresentado. Call of Duty: Black Ops III não foge à regra quando o assunto é singleplayer, mas demostra que o modo online ainda tem gás.

A Treyarch sempre foi uma empresa de inovar a franquia, primeiro pela história de conspiração estabelecida no primeiro Black Ops, depois com significantes melhorias no multiplayer em Black Ops II. Parece que essa ambição não estava presente quando foi hora de desenvolver a campanha para o terceiro.

A trama se desenrola sobre um futuro onde inteligências artificiais fazem parte do nosso dia-a-dia e um grupo de soldados que trabalha nos limites da moralidade. Desconexa, e com personagens fracos, ela tenta trazer reflexões sobre a moralidade no campo de batalha. Moralidade que nunca é bem trabalhada e acaba apenas por ser uma “motivação” em continuar para a próxima fase.

Na tentativa de trazer uma nova experiência, a Treyarch aposta na possibilidade de jogá-la em modo Co-Op para até quatros jogadores, o que infelizmente acaba por agravar a situação. Jogar a campanha é sinônimo de corredores interligados entre cinemáticas, com mapas abertos que aparecem de tempos em tempos. Black Ops III é uma experiência ainda mais claustrofóbica, sem espaço para táticas avançadas ou trabalho em equipe.

A solução da Treyarch para esse problema — ao contrário do que esperávamos — não foi torná-la mais variada, mas sim colocar ainda mais inimigos poderosos quando atuamos com outros jogadores. Acabamos com uma campanha cooperativa que não é apenas muito linear, como terrivelmente maçante. Cada fase é um tédio repleto de inimigos poderosos demais, pouco recompensadores e um balanceamento estranho. Lá pela 7ª missão, a única coisa que queríamos era que terminasse logo e pudéssemos ver o final - que, no final das contas, foi o que faltava para desgostarmos de vez e decidirmos nunca mais encostar na campanha.

Enquanto a campanha pode não ser das melhores, Call of Duty: Black Ops III se mostra como um dos quase melhores dos últimos anos quando o assunto é multiplayer. Ele se apoia em parte das mecânicas de jetpacks introduzidas por Advanced Warfare e adiciona a possibilidade de correr pelas paredes. Com isso, temos partidas que não são só frenéticas como também com uma grande fluidez e dinamismo.

Pela primeira vez, Blacks Ops traz um outro tipo de competitividade: a corrida contra o tempo no modo Free Run. Com três estágios, os jogadores podem competir para ver quem faz o melhor tempo com o grande uso de habilidades de parkour. É um modo interessante, mas que carece demais de conteúdo. Apenas três mapas garantem pouca longevidade e deixa a impressão de se trata de um experimento ainda não completamente finalizado.

Black Ops III perde um pouco na personalização de personagem em prol de um novo sistema de “especialistas”. O jogador agora pode escolher um especialista com uma habilidade especial como a Battery (usa um escudo para absorver o dano por um curto período de tempo) ou o Prophet (arma de raios). Essas habilidades são interessantes e espaçadas o suficiente para garantir que uma partida fique ainda mais divertida sem perder o balanceamento entre as equipes.

Balanceamento, aliás, é um assunto complicado, ainda mais quando o assunto envolve Call of Duty e Treyarch. Não é de hoje que vemos problemas com armas superpoderosas (como Famas, de Black Ops I) e mapas completamente estranhos. Pela primeira vez desde que começou a produzir jogos da franquia, a desenvolvedora lançou 12 mapas balanceados e divertidos em diversos aspectos.

Em sua grande maioria, eles oferecem diversos caminhos para chegar ao objetivo ou eliminar o inimigo sem que o jogador se sinta sobrecarregado de informação. Conseguíamos avaliar a situação, mas ainda éramos pegos de surpresa pelo inimigo. Isso é um grande avanço após dois jogos com mapas que variavam entre medianos a terríveis.

Como já é de costume, Black Ops III descarta novamente os killstreaks em favor dos scorestreaks, também usados no antecessor. Eles garantem o uso de habilidades especiais como UAVs e ataques aéreos na medida que o jogador faz pontos e não elimina os oponentes. Partidas de Team Deathmatch deixam de ser aquela festa de bombardeios a cada cinco segundos e se tornam mais táticas. Por outro lado, Domination é uma zona de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo na tela.

O shooter seria disparado um dos melhores desde Black Ops II de 2012 se não fosse por um pequeno, mas importante detalhe: a terrível conexão com os servidores no Brasil. Das inúmeras partidas que fizemos, nenhuma delas foi completada sem problemas de conexão: muitas vezes, descarregamos um pente inteiro no inimigo e as balas não fazíamos efeito.  A cada alinhamento planetário, ou com uma boa dose de reza, conseguíamos entrar em uma sala onde o problema era um pouco menos aparente.

Mas isso é um problema em menor escala no modo Zombie, que vem ganhando mais e mais atenção pela Treyarch desde o seu lançamento junto com Call of Duty: World at War. Agora, ele tem um sistema de progressão separado e uma campanha para até quatro jogadores online (ou dois jogadores locais) chamada Shadows of Evil. Sua jogabilidade se mantém, em grande parte, similar ao resto do game, mas com um cenário noir da década 1940 e uma grande quantidade de armas clássicas.

Zombies se mostra mais uma vez um dos melhores modos de sobrevivência atualmente no mercado e não precisa mudar a fórmula para provar isso. O primeiro mapa incluso no game oferece uma progressão linear que ao mesmo tempo se torna desafiante e recompensadora.

Black Ops III é sem dúvidas o jogo mais bonito da franquia, mas essa beleza vem a um custo que não achamos ser necessário. Nessa constante corrida por gráficos melhores, a Treyarch optou por uma taxa de quadros flutuante tanto na campanha como em certos momentos do modo Zombies. Os antigos 60 quadros por segundo são vistos raramente enquanto jogamos o modo de um jogador, ainda mais no Xbox One, que sofre com um desempenho pior ainda. Felizmente, as partidas multiplayer se salvam por muito pouco desse problema e demonstram um desempenho aceitável.

Call of Duty: Black Ops III

Call of Duty

Call of Duty: Black Ops III

(Lucas Moura)